quinta-feira, março 08, 2007

Criancinhas


A criancinha quer Playstation. A gente dá.

A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.

A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.


A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.


A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.


A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.


A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.


Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.


Desperta.


É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.


A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.


A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.


A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».


Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».


A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».


Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.


Artigo na Visão online!

11 comentários:

linfoma_a-escrota disse...

Deslavado cambaleio descalço nas
exoferomonas dos coitadinhos, ameijoas
defende-me do musgo escorregadiço por
contracto contrapartidário, com voz grossa
nada ameaçadora, é antes humidade endividada
ao sílex que já javardou riso sobre a distorção
das guitarras eléctricas, isto quando compete em
palco pela sonolência de tripas anti-inflamatórias
na mais procurada lixeira deserta em
forma de ilha, com alemãs tatuadas claro –
CDS/PressãoPosta – vou magoando-vos os
caules dos pés alagadiços, lambendo
os restos de estufado de entrecosto
deixado vomitado num beco sem jeito,
vizinhança de kits acarinhados para poucas
bases de amoníaco e detergentes aFIMs,
manchas de cadela chichizáda territorial,
untuosa esporra de aviador com vertigens
e, ainda, complexados cortes que arrastam
herpes roubada, como estou, pouco afectam;
vamos é deitar-nos descerebrados,
esmagados um no outro aguardando
deixarmos de adorar onde estamos e
podermos remar do fundo do lar até à
superfície dos amanhãs, onde voltaremos a
espraiar-nos neste colo de esconsa exultação,
nem nos lembraremos é o que vale, murchar
despegados em depressões desembainhadas
desde a primeira vez em que nos enevoámos
com as raias e faisões engatilhados, há bocado,
contra as recauchutagens obrigatórias dos
trémulos estratagemas do sucesso social,
mais logo, apoderado níquel estafermo
fragmentado em envergonhada confiança de
insolente penitente; no cartão solitário
nenhuma lei conquisto, força foi expulsa
e só resulta se alguém recusa o que o corpo
N-E-C-E-S-S-I-T-A, troquei de auges
pela inanidade dum túgurio anoréxico
à espera de explicações para a salvação
discuto com as unhas que deixei de roer
e empurro o braço trémulo em direcção
ao honda civic já estacionado, cujo
condutor foi lesto demais para ser cravado,
enquanto a anchova andante revirava os
olhos, atingia o típico nirvana tóxico,
balbuciava entregengivas, com tom de
professor, o glaucoma que demora a vir
requisitar tal tarte a emoldurar em galeria
de arte viva e jurava ser bom, nem merecer
estar apontado por injustas crianças ensinadas
a evitar imitar as mímicas de quem já fui;
actualmente, misónico, calafeto catrefadas
de redis em remorsos na minha teia de cordel
a tiracolo que se enquistou na auto-estima
lentamente, até nada ser depreciativo e
meu objectivo ser conseguir levitar assério;
mas é que em todos, por debaixo do sobrado,
habita arreigada e tantaDORa personagem em
catálise devido à sua ervanária de trato fácil e
recompensa sobranceira, pois sempre que te
picas a colher rosas de artemísia, ou dúzias
de pétalas com desdém se despedem de ti,
ou plantas anualmente algarobas na campa
inexistente da tua família arco-íris
que nem sequer nunca te quis bater,
Aconteço, e o tempo goza do reinado
sem consciência de suas dobradiças,
poucas são penincilinas tão saudáveis
como é leres minhas desgraças insolentes
para prevenir consumo de anfetaminas
quando a personalidade é argamassa ainda,
podes ser presenteado com urticária que
qualquer chapada na cara arremessa para
uma serrania barata denomiNADA de casa.

in QUIMICOTERAPIA 2004


WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

Beezzblogger disse...

Olha uma grande verdade, sim senhora...
Vou linkar no meu este poste...

Abraços e bom fim de semana

José Faria disse...

E cada vez pior meu amigo! Estas cedências social e humanamente irracionais, incultas, já estão quase a exigir mais um entretenimento dos políticos que tantas vezes esquecem os valores da família e consequentemente a educação sócio cultural e de saúde dos seus descendentes!
É que essas cedências com efeitos psicológicos e biológicos negativos, estão a vavorecer uma sociedade futura mais débil e mais incapaz!
Um abraço

José Faria

Conceição Bernardino disse...

Olá,
Espero que me desculpe forma como faço os meus comentários, mas é pura e verdadeira...
Para mim não chega, dizer está bonito ou lindo – por isso gosto de deixar pensamentos frases de outros autores como presente da minha gratidão e do meu encanto do que leio, do que observo nas imagens e na escrita.
É a minha maneira de ser...
A critica faço-as, da forma como somos tratados pelo Estado que ignora os problemas da nossa sociedade e como pouco ligam aos grandes talentos que encontro nos blogs.
Peço desculpa e se alguém não gostar da forma como faço os meus comentários agradecia que me dissessem pois tentarei melhorar.
Sou apenas uma amadora de escrita que escreve pela beleza de sentir na escrita as palavras que me vão na alma e penso que é essa a beleza que encontro naquilo que leio cada um escreve com a sua beleza.
Não quero com isto desrespeitar ninguém até porque as palavras lindas, bonito têm um grande significado no meu vocabulário.
Boa semana
Desculpem-me a repetição do post, mas julgo que nem todos entenderam...

Esta é a frase que vos deixo: se pudesses estar perto de mim talvez encontrasses a resposta porque te olho, porque choro sem te conhecer. Se um dia te encontrar entregarei o meu sorriso, é nele que escondo tudo aquilo que sinto só para te ver feliz.

Beijinhos
Conceição Bernardino
http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com

Juno disse...

quem e o janota? e janota de apelido? :) *

carmo disse...

olá Janota,obrigada pela tua visita, e deixa-me dizer-te que na verdade,as criançinhas de hoje são tal como falas na tua peça.eu tenho 2 filhos maravilhosos,mas lutei muito para que eles fossem diferentes.na verdade o mais velho tem 31 anos e a vivi do blog esperãnça tem 26,mas as minhas netas já são parecidas com o teu comentario,outros tempos? UM BEIJO.

peciscas disse...

Tens toda a razão.
Aliás, um NÃO, ou mesmo uma palmadita, aplicados a tempo, só fazem bem e previnem males maiores...

Margarida disse...

È pá! Infelizmente tem realidades dessas por aí.
Mas felizmente que nada disso me passou aqui em casa.
Gostei imenso do texto.
Desejo um bom fim de semana
guida

Anónimo disse...

Olá Carlos

A propósito do tema tratado neste post fez-me lembrar algo que me aconteceu na semana passada.

Um rapaz pregou uma rasteira à minha filha, tendo ela caído no chão e ficado com o joelho inchado e negro.

Com paciência expliquei ao rapaz que devia ter cuidado com as brincadeiras porque, por vezes, certas brincadeiras que parecem inofensivas acabam por ser coisas sérias. Contei-lhe que quando eu era adolescente me tiraram a cadeira quando me ia sentar e, por causa disso, parti o cóccix e sofri horrores. Também lhe contei que assisti a uma criança ficar cega de uma vista por causa de uma brincadeira aparentemente inocente.

O rapaz ficou sensibilizado e fartou-se de pedir desculpas que eu senti serem sinceras.

Quando me preparava para amparar a minha filha tentando levá-la com dificuldade para o carro, apareceu-me a mãe do rapaz muito exaltada e a gritar comigo perguntando o que é que eu tinha feito ao seu menino que estava lavado em lágrimas. No meio dos seus gritos exaltados tentei fazê-la ouvir-me e disse-lhe que tinha falado com a criança explicando-lhe os perigos de brincadeiras aparentemente inocentes. A "senhora" quase me bateu porque eu tinha falado com a criança. Tentando acalmar os ânimos fui até ao carro onde estava o miúdo e repeti o que lhe tinha dito antes perguntando-lhe se não era aquilo que eu lhe tinha dito anteriormente. O rapaz confirmou, mas a mãe nem ouviu, destratando-me como se eu e a minha filha tivessemos sido as culpadas do seu menino ter pregado a rasteira.

Fiquei com a "batata quente" nas mãos tendo que ir tratar da miúda e ficado numa pilha de nervos por causa dos gritos da mulher que ainda por cima me dizia que era professora.

Senti que a criança era sensível e que caiu nela depois de ter falado com ela e ter explicado os perigos daquelas brincadeiras. A mãe com a sua atitude, decerto, contribuiu para que ele se tornasse num dissimulado e malcriado pois, já no carro, o miúdo mentiu dizendo que já tinha as pernas esticadas e a minha filha é que se deixou cair em cima delas, quando houve testemunhas que viram o rapaz pregar a rasteira. Não chamei a atenção para esta "mentirinha", pois não tinha grande importância para mim, mas são atitudes como as daquela mãe que tornam os miúdos em desordeiros e em futuros adultos inúteis incapazes de reconhecer seus erros e de os corrigir.

Aqui fica o meu desabafo e apelo para que os pais se preocupem mais em dialogar com seus filhos e saibam dizer não quando é preciso.

Com amizade

Alexandra Caracol

Juno disse...

Esta mesmo excelente esta analise ás criancinhas que por ai andam. Perdoem me mas dá me uma certa raiva saber que os pais podem ser mesmo uns atrofiados do catano e so porque nunca foram programados a dizer q nao, lixam um caracter duma pessoa pa sempre. F*** MORANGOS

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Deveras interessante e realistico, aqui em Inglaterra os filhos (criancinhas) ja ameacam os pais porque baniram a simples palmada. Abracos